Hoje, 18 de junho, é dia do Químico. Para homenagear esse profissionais, pedimos à Silvia Waisse, professora do grupo de história da ciência da PUC-SP, que selecionasse os químicos que mais contribuíram com a humanidade. Suas descobertas foram decisivas para chegar-se ao conhecimento atual do que é química - que, somada as outras ciências, contribuem nas transformações e desenvolvimento da ciência.
A mudança da alquimia para a química moderna, a descoberta dos gases, da estrutura molecular, dos átomos. Confira abaixo quais foram os passos que colocaram seus nomes na história.
Paracelso
PARACELSO (1493- 1541)
O suíço Philippus Aureolus Theophrastus Bombastus Von Hohenheim, mais conhecido como Paracelso, era um conhecedor multifacetado. Ele estudou e escreveu sobre medicina e química, mas também sobre misticismo e filosofia. Foram as suas contribuições que iniciaram o processo de transformação da alquimia em química moderna.
“Paracelso entendia a química como chave para a compreensão do universo”, explica o professor de história da ciência da USP Paulo Porto. E por isso sempre foi muito criticado. Quando jovem viajou pela Europa e Oriente Médio curando doentes. Mais tarde ganhou inimigos por todos os lados, quando, como professor, convidou o povo para uma aula aberta e queimou livros da medicina clássica em praça pública - um absurdo para a época.
O cientista conhecia muito bem a alquimia e por isso identificou problemas na ciência clássica. Foi pioneiro ao dar à medicina princípios de uma filosofia química. Pela primeira vez, utilizou-se de remédios químicos e compostos metálicos dos alquimistas para criar tratamentos para diversas doenças como, por exemplo, a quimioterapia (com enxofre, cobre e mercúrio). A observação da natureza fez que com ele entendesse que a análise em laboratório da matéria era forma de se obter conhecimento.
Jan Baptist Van Helmont
JAN BAPTIST VAN HELMONT (1579- 1644)
Além de químico e bioquímico, o belga Van Helmont também era médico e fisiologista. Assim como Paracelso, estudou a magia e a ciência tradicional, mas, diferente do seu anterior, valorizou muito mais o trabalho experimental e quantitativo do que a filosofia.
Rejeitou o que se conhecia anteriormente por elementos da matéria - Aristóteles definiu quatro (ar, terra, fogo e água) e, Paracelso, três (sal, enxofre e mercúrio). Para ele, a matéria constituía apenas de ar e a água. A partir daí, constatou que a fumaça de combustão não era similar ao ar e ao vapor de água, como se acreditava anteriormente.
Acabou nomeando essas fumaças de gás e passou a considerar a existência de gases no ar e nas reações químicas. Investigou e classificou um grande número de gases, tais como o dióxido de carbono, monóxido de carbono, entre outros, originados de águas termais, da queima de carvão, da fermentação e das erupções das minas.
Robert Boyle
ROBERT BOYLE (1627-1691)
Com formação tradicional, o inglês, filho de Conde, deixou a filosofia para se dedicar à experimentação, ao construir um laboratório na sua casa em Sailbridge. Em 1964, chegou a Oxford, aonde produziu a maioria de seus trabalhos, dedicando-se também à física. Dando continuidade aos estudos de Helmont, publicou sobre a dilatação dos gases em The Septical Chymist(1661), diferenciando pela primeira vez a alquimia da química, ao definir, ainda que vagamente, os modernos conceitos de átomo e molécula.
Ficou muito famoso também com a publicação de uma lista com 24 avanços científicos para a humanidade que aconteceriam futuramente. Ele previu, entre outros, submarinos, aviões, luz elétrica, modificação genética, transplantes de órgãos e a capacidade das cirurgias de prolongar a vida.
Georg Ernst Stahl
GEORG ERNST STAHL (1659-1734)
Médico e químico alemão, Stahl ficou conhecido principalmente pela criação da Teoria do Flogismo, publicada no livro "Os Fundamentos da Química". Baseando-se nos trabalhos de Johann Joachim Becher, ele chegou à conclusão de que quando um mineral ou metal fosse muito aquecido, ele entrava em combustão, liberava uma substância chamada de flogisto, sofria corrosão e perdia sua capacidade de combustão.
Com isso, o químico começava a explicar os diversos efeitos envolvidos da combustão, ainda que não de maneira completamente correta. Seu estudo foi extremamente importante para o entendimento de processos biológicos como a fermentação, respiração e putrefação.
Antoine Lavoisier
ANTOINE LAVOISIER (1743-1794)
A famosa frase “na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma” é a definição do químico francês para sua teoria de conservação da matéria.
Ele descobriu que a combustão de uma matéria só acontece com o oxigênio (elemento que identificou e classificou), derrubando a teoria do alemão Stahl. Junto com Claude-Louis Berthollet, publicou o estudo "Método de Nomenclatura Química", propondo uma reforma na linguagem da química. Desvendou a composição química da água: dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio.
Além disso, com o clássico “Tratado Elementar da Química”, separou definitivamente a química da alquimia. A sua mania de sempre pesar na balança tudo o que analisava levou-o a descobrir que a soma das massas dos reagentes é igual a massa do produto de uma reação e criar a Lei de Conservação das Massascriar a Lei de Conservação das Massas.
John Dalton
JOHN DALTON (1766-1844)
Físico e químico inglês, criou da teoria atômica . Ficou conhecido também pela descoberta do daltonismo – anomalia da visão de cores-, doença que ele próprio tinha.
Com a publicação "Absorção de gases pela água e outros líquidos", estabeleceu o princípio básico de sua teoria: a pressão total de uma mistura de gases é igual à soma das pressões parciais dos gases que a constituem. A pressão parcial, aí, seria a pressão de cada gás individualmente.
Em seguida, com base nessa teoria, criou outra, a Teoria de Dalton, na qual constatou que os átomos de determinado elemento eram iguais e de peso invariável. Nessa época, ainda não se sabia a fórmula molecular dos elementos, mas ele também verificou que os átomos de diferentes elementos são diferentes entre si.
Dimitri Mendeleev
DIMITRI MENDELEEV (1834-1907)
O químico russo tinha uma personalidade muito forte, por isso só conseguia trabalhar sozinho. Criou um laboratório improvisado em seu apartamento, aonde fez descobertas importantes sobre estruturas atômicas, valência (capacidade de um átomo de se combinar com outros) e propriedades dos gases.
Quando ele descobriu que as propriedades dos átomos decorriam de sua massa, criou uma tabela com 63 quadrados, cada qual com o símbolo de um elemento, sua massa atômica e suas propriedades físicas e químicas; e foram agrupados em ordem crescende de suas massas. Era a primeira versão da tabela periódica. A classificação de Mendeleev tinha ainda espaços em branco, o que indica que ele previa a descoberta de novos elementos.
Os químicos dessa lista foram selecionados pela pesquisadora e professora Silvia Waisse. Além de editora da revista eletrônica Circumscribere: International Journal for the History of Science, Silvia faz parte de um grupo de docentes da PUC (Pontifícia Universidade Católica) que constituem o Centro Simão Mathias de estudos em História da Ciência (CEMISA).
Silvia também cita a importância de Simão Mathias para a química brasileira. Ele foi um dos fundadores do Instituto de Química da USP e a medalha de honra que a Sociedade Brasileira de Química confere anualmente é a “Medalha Simão Mathias”. Recentemente foi publicado o livro Centenário Simão Mathias: Documentos, Métodos e Identidade da História da Ciência e, em breve, outro será lançado: Simão Mathias - Cem Anos: Química e História da Química no início do Século XXI, com trabalhos de importantes historiadores da química atual e entrevistas com responsáveis pelo desenvolvimento da química no país.
FONTE: REVISTA GALILEU